terça-feira, 24 de maio de 2011

A Hora da Sessão Coruja

De meia noite às sete e meia da manhã, a quinta edição da Virada Cinematográfica em Natal

Onze horas da noite e o cinema do terceiro piso do principal shopping da cidade poucas vezes recebe tanta gente diferente reunida em seu espaço. Enquanto alguns esperam por “Piratas do Caribe 4 – Navegando em Águas Misteriosas”, outros formam fila para uma sessão que só iria terminar por volta das 06h30 depois de três filmes seguidos. É a quinta edição da Virada Cinematográfica, que aconteceu neste último sábado em Natal e trouxe até a cidade o mais recente título de Francis Ford Coppola ( O Poderoso Chefão ) “Tetro”; o filme surpresa da noite, o mais recente de Danny Boyle ( Quem Quer ser Um Milionário ) “127 Horas”; e para encerrar uma “dramédia” italiana “O Primeiro que Disse” dirigido por Ferzan Ozpetek.

Galera esperando a sessão começar [Foto: Ana Carmem Nascimento]



O evento que começou originalmente há três anos em Aracaju, chegou a Natal pela primeira vez em setembro do ano passado reunindo 231 cinéfilos na ocasião. O organizador do evento Roberto Nunes e diretor da Cine Vídeo e Educação, produtora que em parceria com o Cinemark desenvolve o projeto “Cine Cult” há 4 anos em 14 cidades do país, afirma que a idéia da “Virada Cinematográfica” nasceu quando o Cine Cult fez um ano de atividades em 2008. Desde então a madrugada cinematográfica vem sendo aperfeiçoada em Aracaju, com novidades a cada edição. Segundo Nunes, Natal mereceu atenção do evento , pela cidade ter um dos públicos mais ativos do cinema cult no país. “Natal tem um público muito forte para esse tipo de cinema, compete diretamente com Aracaju e Santa Cruz em São Paulo, que juntas formas as nossas três melhores praças”, comenta.
Roberto Nunes 
Para definir na forma mais simples, parece um show alternativo que alguns chamariam de rock; outros de pop; alguns podem até arriscar um “neo-emo”, mas diferentes perfis formam o público que frequenta  a Virada. Calça skinny, chapéu coco preto cinza ou branco, all star de couro, jaquetas jeans, camisas com mensagens politicamente corretas, sátiras ou apenas quadriculadas, e óbvio, o rei do fim da primeira década dos anos 2000 no rosto de 70%, dos jovens,  os óculos Ray Ban Wayfarer. Para a estudante de Publicidade e Propaganda, de 18 anos, Raquel Assunção, que pela segunda vez passa a madrugada no cinema, o público é jovem e quebra os padrões tradicionais para uma sessão cult. “Eu acho interessante saber que são pessoas jovens e que serão adultos muito ligados ao cinema. Quando se pensa em filme cult, logo vem em mente um público mais velho, e aqui o que se vê é justamente o contrário, é muito bom saber que em Natal existe esse público”, afirma.
Raquel Assunção pela segunda vez na Virada Cinematográfica
Depois de entupir a mochila com todos os tipos de doces e salgados inimagináveis comprados na doceria próxima ao cinema, ou no supermercado no térreo do shopping, a fila anda e todos aguardam ansiosamente o início da primeira exibição com o filme mais recente de Francis Ford Coppola, Tetro. Pai de uma geração cinéfila desde os anos 70, quando ele cria em 1972 uma das mais ambiciosas trilogia da história do cinema, O Poderoso Chefão (The Godfather), Coppola apresenta quase quarenta anos depois uma obra mais intimista baseada em alguns elementos da sua própria vida. Seu pai era músico e o diretor sempre sentiu que o pai o comparava ao irmão escritor que não teve tanta sorte na carreira. 

Claro que sendo Coppola, qualidade é o que se veria na tela. Dessa vez o roteiro intenso trouxe até um flerte com o  com um realismo fantástico através da óperas para apresentar ao espectador o psicológico de Tetro. O estudante de direito [e aspirineiro deste blog sem noção], José Alves Frazão, de 20 anos, acredita que esse foi o grande acerto da quinta edição da virada Cinematográfica. “Gostei muito, mostra que o velinho ainda sabe fazer filme, e eu e já sou fã dele desde que vi pela primeira vez O Poderoso Chefão, e ver hoje um filme bem diferente ambientado na Argentina com uma excelente trilha sonora, produzir o mesmo fascínio é muito bacana”, comenta ao final da sessão.

@ZehFrazao fingindo espontaneidade após Tetro
Intervalo de 20 minutos para se espreguiçara; beber café; tomar água; ir no banheiro ou até mesmo descolar alguém para “assistir” o próximo filme acompanhado, e começa a segunda sessão, a do filme surpresa. Depois de semanas nas apostas para saber qual seria o título da vez, “127 Horas”, é revelado. O filme é o mais recente de Danny Boyle, indicado em seis categorias no Oscar esse ano, e conta a história real do montanhista norte-americano Aron Ralston. Em uma de suas explorações, seu braço esquerdo ficou preso em uma pedra e essa situação se arrastou por 127 horas quando então ele finalmente conseguiu se soltar da pedra, sem o seu braço, mas conseguiu. A edição ágil e inteligente do filme dão um ritmo interessante à história. Nos corredores, tudo o que se ouvia eram elogios à forte trilha sonora e à boa atuação de James Franco. Mas também houve quem saísse enjoada com o braço em carne viva do protagonista. “Não como mais carne vermelha pelo menos até o filme sair mais da minha cabeça”, confessou uma menina enquanto caminhava com a colega para o banheiro ao fim da sessão.

Hora do terceiro filme e se o galo esta cantando lá fora não dá para saber, mesmo passando das 5 da manhã o clima no cinema continua o mesmo do início, só que com rostos mais cansados e olheiras mais acentuadas. O Primeiro Que Disse (Mine Vaganti) vem da Itália com direção de Ferzan Ozpetek. Em um mês no qual a união homoafetiva é o destaque entre conversas virtuais e reais no país devido à aprovação do casamento civil para casais homossexuais pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 5 de maio, o filme veio reforçar a discussão, falando sobre a aceitação da homossexualidade na família. Com trilha sonora muito própria e uma personagem, em especial, que roubou a cena da noite inteira, a avó da família Cantone.  Interpretada pela atriz italiana Ilaria Occhini, a avó diabética e sensata, traz em si todo o drama que resume o filme: a dor de uma vida não vivida. A película italiana encerrou bem a boa programação da quinta edição.

Para a assistente Social de 24 anos, Lucélia Stevenin, que pela primeira vez passa a madrugada no cinema, a programação foi bem montada. “Eu adorei os três filmes. O primeiro foi mais denso e o melhor entre os três, o segundo foi baseado em fatos reais, mais dramático, e o terceiro quebrou o clima sendo leve, mas que também tinha esse lance polêmico da homossexualidade”, comenta enquanto espanta o sono lembrando também que a sessão poderia começar mais cedo. “Algumas pessoas deixam de vir pelo horário, no final do segundo filme, você já esta muito cansado porque esta amanhecendo, mas para quem gosta de cinema, é um evento muito interessante”, finaliza.

Lucélia Stevenin aprovou a programação
Já para o produtor da Virada, Roberto Nunes, não há cansaço que atrapalhe os planos de uma Pós-Virada na próxima edição, totalizando assim uma “trilogia para o evento”. Ele pretende já para a sexta edição realizar uma festa pré-virada, assim como ocorreu na Ribeira nesta edição com bandas ao vivo, mas que segundo ele também pode ser um debate com algum cineasta, e logo após a madrugada um momento pós-virada. “ Já estamos maquinando há algum tempo essa idéia e pretendemos em breve fazer nesse estilo, para quando a galera sair do filme, possa ir para uma praia, por exemplo, relaxar, algo mais natural”, revela.

Com um café da manhã regado a muito pão de queijo, empada, sucos, bolos e outros salgados; e também com um abaixo assinado para que a sessão do cine cult ganhe mais uma sessão a noite, terminou a quinta edição da virada cinematográfica. Sete e meia da manhã sobravam nas cadeiras do cinema apenas o cansaço de quem passou mais de sete horas apreciando positivamente ou negativamente a sétima arte.

 Por: @hickarruda: 
@hickarruda Keep calm and try apparate. Cinéfilo, pottermaníaco, adora Tim Burton, acredita em vida fora da terra e queria ter super poderes além dos que ja tem.

-P.S.: Do Novo Jornal

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